segunda-feira, 20 de abril de 2009

...PARA PESCADORES


Quando estou no Pedrogão, gosto de viver consoante as marés.

Naquele dia de finais de Julho, o despertador tocou ás 5 da manhã. Era a hora.

Embora seja pescador desde que me lembro, não havia muito tempo que começara a corricar aos robalos na praia.

A espera paciente da armadilha montada com casulo num provável sítio de passagem, passava agora a uma caça do bicho nas ondas de uma praia sem fim. Tão grande que qualquer ida para norte com o objectivo de chegar à praia mais próxima digna de ter um nome, era pelo menos um dia inteiro, a pescar pelo caminho, claro.

Alguns robaletes pequenos e uns ruivos foram suficientes para que a procura do grande robalo à borracha, com a maré a descer, me levasse todos os dias para a praia de dunas com a força de uma liberdade que...eu gosto.

Naquela manhã não fui o primeiro a chegar à praia, havia já umas pegadas desconhecidas na areia molhada sem ninguém à vista do que permitia a hora do dia e o nevoeiro, mas cheguei primeiro que o Armando, que já não é mau!

-O mar tá bom, pá! Tás com que borracha?
-Hoje é com a cinzenta...a água tá escura!... disse ele

Após uma breve troca de constatações deste kilate, ele arrancou pra norte e eu preparei-me para mais um lançamento naquele fundão. À terceira manivelada a linha estacou. Uma cabeçada confirmou que estava lá. Era um peixe bom.

Ainda tentei assobiar a dar sinal ao Armando, mas com o nervoso do peixe e a boca seca da noite bem passada, saíram-me uns sopros curtos e estranhos, como se quisesse apagar velas!

Fui tirá-lo uns bons metros mais à frente depois de uma luta nobre, com paragens teimosas e arranques decididos como ainda não tinha sentido naquela cana. Com o peixe cá fora e depois de bem mirado e avaliado o exemplar, aquela inquietação... devem lá estar mais!

Pelo andar e pela maneira de pescar, conhece-se ao longe, no areal, quem vem lá.

Era o Zé Paiva!

-Xiça, até que enfim apanhas um peixe como deve ser, pá! Quilo e meio.
-Lança aqui. Tás com que borracha?
-Cinzenta, disse ele.

Ali não deu mais nada. Mas aquele clima de quem já sentiu peixe (tantos, tantos dias sem lhe vêr a côr) fez-me partir para outro pesqueiro.

Pelo caminho, ou seja, pela beira-mar, vinha já o Armando vitimado pela pior coisa que pode acontecer a um pescador...tinha horas para estar em casa!

-Porra, isto a dar peixe e logo hoje que tenho visitas pra almoçar...tenho que me ir embora!
-Eh, Eh
-Tá ali um gajo à frente que deve ter tirado um bom...mas eu não lhe dou confiança, é da Vieira!
-Bom almoço...

Ao longe parecia-me uma tábua na areia, atrás do tal gajo, mas quando me aproximei vi que era uma “latega” enorme. Nem pio.

Fui encontrar o Zé Paiva mais à frente, num pesqueiro porreiro. Sem falarmos, comecei logo a pescar descaído para sul. Passado um bocado, com aquela febre de lançar para o sítio certo, estava já com água acima dos joelhos quando senti um pequeno, ligeiríssimo prender da linha ao que reagi instintivamente.

Tá lá outro!

Aquela sensação de ter mesmo que dar linha ao peixe senão ele parte aquilo tudo não me tinha acontecido muitas vezes, pelo menos no mar. Mas este estava difícil. Com o carreto a andar pra trás e eu a andar prá frente (e vice-versa) lá o consegui fazer passar ao pé de mim e agarrá-lo pelo beiço.

Se o outro era bom, este metia respeito. Devia ter perto de 3 quilos. Acendi um cigarro e esperei que o joelho parasse de tremer.

-Hã, não te cabe um palitinho no cu! ...disse o Zé Paiva
-Tás a ver, hoje é com a borracha branca, pá!

Ele ficou a pescar e eu fui-me embora, carregadíssimo!

Já em casa, pesada a pescaria, apareceu o Zé Paiva com o maior robalo do dia!


Foto:
O primeiro pesou 1,600 Kg e o outro 2,700 kg.

Zé Paiva: 3 quilos dele.

O Armando estava a almoçar.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Apiário


Apiário de fecundação de rainhas, Nisa.

Muito trabalhinho aqui investido e ... a compensação.